Psicoterapia Infantil: Qual a Importância e Como Funciona?
A psicoterapia infantil é, sem dúvidas, um assunto que tem entrado cada vez mais em pauta. Acontece que, com as constantes mudanças da sociedade, principalmente no que tange as tecnologias, muita angústia tem surgido em pais que, preocupados com a saúde dos seus filhos, recorrem ao seu psicólogo de confiança.
Em contrapartida, muito preconceito ainda envolve a profissão do psicólogo e, com isso, muitas crianças deixam de receber um atendimento psicoterápico pertinente, pois os pais acreditam que tal procedimento é apenas para crianças “doentes”. O que, obviamente, não é verdade.
A psicoterapia não está envolvida apenas com questões de saúde versus doença. Mas sim, ela engloba muitos pontos da vida do sujeito que vão além de um mero “8 ou 80”. Desse modo, se a psicoterapia infantil ainda lhe desperta diversas dúvidas, lhe convidamos a seguir em nosso artigo e conhecer um pouco mais sobre esta área na psicologia. Com isso, buscamos desmistificar o papel do psicólogo diante da sociedade e do tratamento terapêutico com crianças.
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Como funciona a psicoterapia infantil?
A psicoterapia infantil, assim como a psicoterapia com adultos, visa estabelecer um lugar de escuta para a criança, um espaço. Afinal, sabemos o quanto somos ensinados que “criança não deve escolher”, ou então “criança não sabe de nada”. E, mais tarde, passamos a cobrar decisões cruciais na vida dos sujeitos, como se eles se quer tivessem sido ensinados dessa forma.
Ou seja, a psicoterapia infantil chega para reconhecer um sujeito, com desejos, vontades, saberes e decisões. Embora, obviamente, a sua linha da constituição psíquica ainda esteja sendo tecida, por todas as relações e vivências da criança.
Desse modo, o psicólogo estabelece um espaço onde a criança pode, simplesmente, ser ela mesma. Dentro de limites sociais, obviamente. Mas há o estabelecimento de um novo olhar sobre aquele sujeito, reconhecendo-o como singular e único.
A psicoterapia infantil não irá “consertar” a criança “problema”
A grande maioria dos pais busca ajuda na psicoterapia infantil com o intuito de “consertar” os seus filhos. Com isso, acreditam na ideia de que o psicólogo agirá como um mágico que, em um número glamoroso de sua apresentação, “retirará” a “disfunção” da criança, estabelecendo um padrão e “encaixando-a” no desejo dos pais.
Acontece que, o primeiro passo em uma psicoterapia infantil é o reconhecimento do sintoma. Ou seja, será que estamos tratando de um sintoma na criança (que se baseia em um desequilíbrio psíquico próprio do sujeito em constituição), ou de uma criança sintoma? Neste segundo caso, o sujeito estará apenas refletindo desequilíbrios que possam estar envolvido com os seus contextos sociais, como escola, família, amigos, etc.
Portanto, diferente do que muita gente acredita, a psicoterapia infantil não vem como uma chave de fenda a fim de “apertar” ainda mais a engrenagem. Mas sim, ela proporciona o óleo para que a engrenagem funcione em sua maneira única e singular! E, infelizmente, os pais, em sua maioria, buscam exatamente a chave de fenda, a fim de restabelecer o equilíbrio que eles idealizaram sobre a criança.
Mas, qual a consequência deste padrão e equilíbrio proposto por pais e pela escola que a criança frequenta? Existem diversos fatores que, cedo ou tarde, serão vividos de maneira dolorosa pela criança:
- Não atende a demanda dos pais: O sujeito em constituição quer, em primeira mão, satisfazer o desejo (este inconsciente) dos seus pais. Com isso, ela ri, faz gracinha e agrada o olhar da mãe e do pai. Porém, com o tempo, o sujeito precisa tecer o seu próprio caminho, a sua própria forma de viver a vida. Desse modo, como ninguém jamais será igual ninguém, a criança passa a se frustrar ao ver que, infelizmente, não tem atingido as expectativas específicas dos pais. E pior: ao ouvir que ela tem sido “incapaz”, vindo de uma autoridade tão absoluta quanto a mãe e o pai, a mesma irá acreditar que, realmente, não é “boa o suficiente!”. Internalizando a ideia de que não consegue fazer nada direito e, com isso, desiste de si mesma. Logo, o ciclo de frustrações se torna infinito: pais cansados e frustrados com o “filho que não deu certo”, e filho que acredita não ter dado certo porque, simplesmente, não teve a chance de dar certo a seu modo.
- Rótulos: “Meu filho não tem jeito!”. Frase esta que, por mais cruel que possa parecer, é extremamente comum. E, como consequência, o sujeito passa a ser rotulado em todos os âmbitos de sua vida. A escuta é escassa, o silêncio entre os desejos do sujeito e o que a sociedade propõe ouvir se instaura em uma vida de amarras infinitas. Na escola, a primeira consequência: a tal “educação inclusiva” obteve êxito: criou mais um aluno problema e rotulado. O aluno grita, tenta recorrer às escutas alheias, mas ninguém dá atenção, apenas dizendo que ele é assim e tudo bem, é o diagnóstico. E, mais uma vez, o desejo singular é calado, a criança precisa ser aquilo que outros impuseram (a criança “sem jeito”) e esta fadada a caminhar diante de um trajeto de rótulos e olhares acusadores e, às vezes, de pena.
Ou seja, o que estamos querendo explanar aqui é a real importância da escuta do sujeito enquanto criança. A psicoterapia infantil tem papel fundamental nesta escuta e na promoção deste caminho que rejeita o silêncio como mero regulador de quem a criança é ou deixa de ser.
A criança também é um sujeito
A criança, mesmo criança, é passível de apresentar um sujeito dentro de si. Sujeito esse que merece ser percebido como alguém único, com ritmo único, desenvolvimento único e modo único de lidar com o mundo a sua volta. Quebrando com o que a sociedade, de maneira geral, faz com as crianças em todos os contextos: inibem as mesmas de desenvolverem a si a partir das experiências em si, mas sim, tentam desenvolver nossas crianças como moldes padronizados para suprir as necessidades sociais.
Logo, voltamos a ideia da chave de fenda e a engrenagem: em suma, os adultos estão constantemente apertando nossas crianças para que se encaixem perfeitamente em suas engrenagens tão desejadas. Esquecendo que, desse modo, a criança deixa de desencadear um movimento único, fadada ao esquecimento por ser apenas mais um que se encaixou na sociedade.
A criança precisa ser ouvida. A criança sofre. A criança tem muito a dizer. A psicoterapia infantil é a escuta crucial para, muitas vezes, salvar nossas crianças de caminhos forçosos. Pois uma coisa é ela fracassar por si, por experimentar ou tentar. Outra coisa é ela fracassar porque os outros dizem que fracassou, sem reconhecer o seu próprio caminho neste mundo.
Afinal, quando uma criança problema surge em alguma escola, por exemplo, será que o problema é, sempre, a criança? Será que a dinâmica do local não está encaixada demais em uma engrenagem doentia que, em grande escala, produz crianças com dificuldades de se relacionar e aprender? Voltando, ao ponto, de “criança sintoma ou sintoma da criança”.
A escuta terá exatamente este papel: proporcionar um novo olhar sobre a vida daquele sujeito que, mesmo negligenciado, merece ser escutado e merece ter o seu desejo enaltecido (por si mesmo).
Qual a importância da psicoterapia infantil?
Já nos ficou clara a real importância da psicoterapia infantil: proporcionar um espaço, uma escuta eficiente e que realmente dê “ouvidos” ao que a criança quer dizer. Reconhecendo-a como única, como sujeito com falhas e acertos. Inibindo o desenvolvimento de comparações com colegas, de achar que é possível “consertar” uma pessoa, enquanto que a sua singularidade é apagada de forma brusca e doentia.
Engana-se quem acha que criança não tem problema, não tem sofrimento. Pudera não ter! É tão dolorido ser criança nos dias atuais, pois constantemente estão sendo exibidas como troféus em escolas e, com suas agendas lotadas, competem – sem querer – uma com as outras. Apenas para alimentar os prazeres dos pais.
E, quando uma cai em meio a esse caminho, é seguidamente rotulada e tratada como ruim, problema ou doente. Mas, sinceramente, você é extremamente e exatamente bom como o seu chefe? Você sabe tudo o que o seu professor já estudou? Não. E precisa saber ou ser? NÃO! Simplesmente porque cada sujeito é único, se desenvolve a sua maneira e vive a sua vida na sua melhor dinâmica.
Porém, no caso das crianças, a dinâmica de suas vidas tem sido fadada a apenas as vontades dos pais. E não estamos falando de limite, regras, respeito, etc. Estamos falando que, em suma, as crianças chegam ao mundo para ser aquilo que os pais não foram. Eles colocam uma carga de que a criança precisa ser x ou y simplesmente para satisfazer os seus prazeres.
A psicoterapia infantil, no entanto, vem mostrar a importância do sujeito que é a criança. Escuta-a, mostra a ela que tudo bem ela não ser igual aos outros. E, aos poucos, auxilia-a a encontrar o seu próprio modo de ser e de viver neste mundo.
O psicólogo conta aos pais o que a criança diz?
A criança, assim como o adulto, tem o total direito de usufruir do sigilo profissional do psicólogo. Ou seja, o psicólogo não terá, em momento algum, o dever de contar aos pais qualquer acontecimento que ocorre na consulta. Salvo em casos onde a vida da criança ou de terceiros possa estar em risco.
Afinal, se até mesmo o psicólogo que, na maioria das vezes, é o único que proporciona espaço para criança, sem julgá-la, quebre com “essa confiança”, como a mesma se engajará novamente no tratamento? Considerando que, muitas vezes, atitudes e palavras ditas em uma sessão jamais são ditas diante dos pais, pois os mesmos poderiam considerar como errado ou desastroso. Logo, se contarmos tudo o que acontece, aos pais, as crianças se sentirão ainda mais presas e condenadas a não serem elas mesmas em lugar algum.
Quando os pais também devem fazer psicoterapia?
Por fim, muita gente questiona sobre quando os pais devem fazer a psicoterapia. No caso da psicoterapia infantil, muito possivelmente o psicólogo irá conversar com os pais, em eventos pontuais.
Contudo, ficará a critério dos pais buscarem ajuda com outro profissional, inclusive, a fim de fazerem a sua própria análise. Ou seja, mais uma vez devemos compreender cada sujeito como único, e a terapia dos pais não devem ser pautadas apenas no lugar de pai e mãe. Mas sim, os mesmos devem ser escutados a partir de suas angústias, desejos, anseios, etc.
Pois não estamos tratando uma mãe, um aluno ou um pai. Estamos tratando uma mulher, uma criança e um home. Nunca um lugar ou uma denominação que precisa de conserto, mas sempre, em todos os casos, um sujeito desejante.