Psicossomatização: Quando o corpo fala o que as palavras não dizem
Certamente você já deve ter ouvido falar em psicossomatização, ou então, doença psicossomática. Mas você sabe, de fato, o que estes termos significam? Pois sabemos o quanto estes termos têm sido disseminados nos dias atuais, porém, infelizmente, eles não têm recebido a atenção adequada.
E ainda: existe muito preconceito atrelado a estes conceitos tão importantes para compreendermos a nossa saúde física e mental. É visto como “frescura”, “besteira” e até mesmo “coisa de louco”. Acontece que, a somatização não é nada disso. Ela é algo que precisa, de todo modo, ser escutada de forma coerente e plausível. Por essa razão, acompanhe o nosso artigo de hoje para ter mais informações sobre este tema.
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O que é psicossomatização?
A psicossomatização, ou somatização, diz respeito a “doença” que surge no campo físico, sem uma causa aparente. É aquela dor de cabeça sem motivo, a dor de barriga que surge antes de um evento importante, ou aquelas feridinhas que aparecem na boca, logo depois de um acontecimento estressante.
É claro que estes são apenas exemplos amplos. A somatização pode surgir em diferentes partes do corpo, com diferentes intensidades. E cada aparecimento será uma forma única do inconsciente expressar algo.
Sabemos que existem muitas definições para estes tipos de “doenças” que surgem em nosso corpo. Por exemplo, muita gente atrela a dor de garganta com “algo que a pessoa não consegue falar”. Mas, não podemos generalizar! A somatização aparece de forma única e singular em cada sujeito.
Como por exemplo, o caso da dor de garganta: podemos ilustrar esta somatização de diferentes formas. Sim, pode ser algo que a pessoa não está conseguindo dizer. Como também pode ser algo que a pessoa vem engolindo – um acontecimento que lhe faz mal e ela sofre sem tomar uma atitude contra. Pode se referir ao “falar demais”, diante de situações estressantes, que a pessoa sempre se arrepende. Pode ser, também, um resfriado.
O sentido da somatização precisa ser escutado a partir do sujeito. Não dá para generalizar a causa, como tudo em psicologia. Não existe 8 ou 80, e já falamos bastante sobre isso. Mas sim, devemos escutar o sujeito com sua somatização e compreender o sentido que ele mesmo tem dado para isso.
Ou então, caso o mesmo nem tenha percebido a natureza da “doença”, é possível questioná-lo a fim de proporcionar uma abertura em sua fala, até que o mesmo se depare com informações sobre si, acerca do ocorrido. Mas isto não quer dizer que o tratamento é diretivo, ok? O terapeuta apenas apontará a somatização caso o próprio paciente comece a falar livremente sobre o seu “quadro”.
Quando o corpo fala
Já dizia Lacan: “Doenças são palavras não ditas”. E é exatamente isso que acontece. Apesar de muita gente ainda não acreditar neste fato, é realmente um fato que o corpo irá sempre falar aquilo que não conseguimos nomear com palavras.
Entretanto, vale ressaltarmos que ninguém é obrigado a conseguir nomear tudo a todo momento. Existem acontecimentos em nossas vidas que realmente são difíceis de serem ditos, principalmente para um “estranho” como um psicólogo que você acabou de conhecer. Porém, isso é completamente natural!
Afirmar que muitas doenças são palavras não ditas não quer dizer que você tem que sair por aí dizendo tudo, mesmo sem se sentir a vontade com isso. Mas sim, quer dizer que, caso você sinta-se convocado a isso, poderá dizer e nomear as suas aflições. Não precisa ser agora, e nem precisa dizer tudo em uma primeira consulta com o seu psicanalista. Ninguém quer te apressar no processo de abrir a sua vida a alguém.
Você precisa, antes de qualquer coisa, sentir-se a vontade com esta ideia. Disseminar o fato de que todo mundo deve fazer psicoterapia é um erro. É forçar as pessoas a falarem coisas difíceis e duras sobre si mesmas, que muitas vezes nem estão preparadas.
Cada pessoa tem o seu tempo. O seu tempo de procurar um psicólogo. O seu tempo de se “autorizar” a fazer uma análise. O seu tempo em conseguir dizer coisas difíceis sobre si. O tempo é relativo e cada um tem o seu.
Entretanto, é um fato que, quando nos deparamos com grandes dificuldades na vida, e não conseguimos colocá-las em palavras (ou não queremos) o nosso corpo poderá tentar dizer o não dito. É aí que a imunidade cai, que “perebas” aparecem, bem como resfriados. O corpo está tentando “expulsar” a angústia que as palavras não ditas geram em nós. Mas, infelizmente, ele nem sempre consegue aliviar esta tensão.
A cura proporcionada pela descarga das palavras
Falar dói. Falar machuca. Falar cura. Nomear sentimentos é difícil, e muitas vezes o vocabulário parece pequeno demais para conseguir expressar o que estamos sentindo. E tudo isso é completamente natural.
Porém, engolir um luto, engolir uma dor ou um arrependimento, pode gerar um afogamento. Engolindo demais nos sentiremos “cheios” e “entupidos”. E não saberemos mais como escoar todo esse preenchimento pesado.
É aí que as palavras surgem. Nomear, falar e apontar dizeres é uma forma simples e difícil ao mesmo tempo. É um meio de “descarregar” tensões. As palavras, assim como as lágrimas, são responsáveis por gastar as angústias. Quanto mais falamos sobre elas, mais elas se dissipam no tempo e no espaço. E, pouco a pouco, nos deparamos com a vida de uma forma diferente.
Percebemos que somos mais um na multidão. E percebemos que tudo bem termos dias ruins e bons. Percebemos que todos têm angústias. Percebemos que só não tem angústia quem já morreu! E, com isso, vamos aprendendo a lidar com a vida, de termo em termo, de palavra em palavra, de significante em significante.
Por que a psicoterapia é importante nestes casos?
A psicoterapia vem exatamente como este meio canalizador (canaliza – a – dor). Vem como este caminho de escuta, a fim de esgotar este silêncio que tem impedido as palavras de serem ditas. Vem como um meio que irá tecer, junto com o paciente, novos fragmentos e olhares sobre todos os momentos pesados e leves da vida.
A psicoterapia irá proporcionar um caminho novo para estas dores não nomeadas. E, pouco a pouco, torna em dito, aquilo que antes parecia impossível dizer. A psicoterapia irá pôr em palavras, a partir do sujeito desejante, todas as dores que o corpo estava tentando expulsar da mente e da vida.
Com a escuta do terapeuta, o sujeito se vê diante de uma oportunidade de viver e gastar suas dores, anseios, bem como viver os seus sonhos e os seus desejos. É uma nova forma de ver a vida e de se ver e viver ela. A pessoa diz, as vezes até sem palavras, aquilo que lhe angustia. E, com isso, as dores vão sendo gastas, com amparo da escuta do analista. A angústia se equilibra, esvazia, dá espaço para novas questões e novos dizeres e viveres. E, com isso, a somatização desaparece, pouco a pouco.
E você? O que você não tem dito para si mesmo?